Ciências & Histórias

sexta-feira, junho 06, 2008

A Água de Tales

É claro que devemos ter em mente que a água tomada por Tales de Mileto como primeiro princípio é muito diferente da água de experiência comum, que bebemos ou que vemos cair do céu como chuva ou correr livre em rios. Como aponta Marcondes (2008), esta água referida trata-se realmente de um princípio, tomado aqui como simbolizando o elemento líquido ou fluido no real como o mais básico, mais primordial; ou ainda a água como o elemento presente em todas as coisas em maior ou menor grau.

Talvez Tales tenha se inspirado nas qualidades únicas de mutação da água; é continuamente reciclada dos céus para a terra e oceanos, levando em consideração a sua mudança de líquida para vapor, representando, assim, a dinâmica intrínseca dos processos naturais. Mais ainda, Tales de Mileto pode ter considerado que, assim como nós e a maioria das formas de vida dependemos da água para existir, o próprio universo exibia a mesma dependência, já que também era considerado por Tales como um organismo vivo (Gleiser, 1997).

Essa visão orgânica do cosmo representa um esforço de unificação dos mecanismos responsáveis pelos processos naturais e nossa própria fisiologia. Quando disse que “todas as coisas estão cheias de deuses”, ou que o magnetismo se deve a existência de “almas” dentro de certos minerais, Tales não estava invocando deuses para explicar suas observações, mas adivinhando intuitivamente que muito dos fenômenos naturais são causados por tendências ou efeitos inerentes aos próprios objetos. De fato, a palavra “alma” deve ser compreendida aqui como uma espécie de principio vital, por intermédio do qual todas as coisas são animadas, e não no seu sentido religioso moderno.

Alem disso, ao mencionar deuses em todas as coisas, não devemos entender que Tales se refere a uma idéia de que há divindades que pensam, segundo a forma humana, imersas no mundo. O termo “deuses” se compõe muito mais com uma perspectiva de animação do real do que, propriamente de divindades como as vistas nos contos homéricos, por exemplo. O emprego de “deuses” parece trazer a informação de que estas forças são eternas – ingênitas e indestrutíveis – e imutáveis.

2 Comentários:

  • Oi fabiano, gostei muito do seu texto. Estou trabalhando este tema em Filosofia e indiquei seu blog para meus alunos. Um abraço.
    Maria Aparecida R. Moreira

    Por Blogger professora Cida, Às julho 28, 2012 12:52 PM  

  • Estou lendo todos os artigos dessa sequência que se refere ao Pensamento Ocidental. Bem bacana. Obrigada por seu trabalho.... pq sei que dá trabalho. Abs Isabela Couto

    Por Blogger Unknown, Às julho 20, 2016 10:04 AM  

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