Ciências & Histórias

terça-feira, agosto 28, 2007

O Papiro de Edwin Smith


Se podemos apenas inferir qual a importância que o homem primitivo dava ao cérebro humano através da análise de seus crânios, é com o surgimento da escrita que estas inferências se tornam muito mais precisas.
O Papiro de Edwin Smith, datado em aproximadamente 1700 a.C., é considerado como o tratado mais antigo que se tem conhecimento0 a fazer uma referência direta ao cérebro. É escrito em um papiro com 4,5 metros de largura e 33 centímetros de altura por um autor egípcio desconhecido, provavelmente um escrivão que copiava outro manuscrito de um período mais antigo, provavelmente entre 3000-2500 a.C. Com erros freqüentes, o manuscrito apresenta correções feitas pelo o autor nas margens do papiro, tarefa que nunca completou, pois o papiro se encerra com sua última sentença interrompida no meio. Aparentemente, a interrupção foi inesperada e o trabalho de transcrição, por razões desconhecidas, foi abandonado antes de se completar.
Em 1862, o americano Edwin Smith, na cidade de Luxor, adquiriu o papiro em circunstâncias controversas. Discute-se sobre a verdadeira forma pela qual ele adquiriu o documento; através de uma troca legítima feita com um comerciante ou através de uma negociação ilegal com saqueadores de tumbas. Apesar disso, sabe-se que Edwin Smith logo reconheceu o valor do papiro, mas nunca chegou a apresentar nada sobre ele. O papiro fica em sua posse até a sua morte em 1906, quando sua filha o doou ao New York Historical Society. Mesmo assim, o papiro fica abandonado até 1920, quando o arqueólogo, egiptólogo e historiador americano James Henry Breasted se incumbiu de traduzir seu conteúdo. Em 1930, Breasted conclui sua tarefa, publicando sua tradução comentada.
Logo com o resultado do trabalho de Breasted, o Papiro de Edwin Smith se revelou o tratado científico sobrevivente mais antigo conhecido, contendo o conhecimento médico dos antigos egípcios. Seu texto consiste basicamente da apresentação de 48 casos, cada um dividido em quatro ou cinco seções: título, exame, diagnóstico, tratamento (se recomendado) e um glossário (com explicações de termos obscuros). São descritos de forma sistemática de acordo com a parte do corpo afetada, iniciando pela cabeça, descendo pelo tórax e espinha onde o documento é interrompido. Dos 48 casos, 27 se concentram em lesões na cabeça (caso 1-27); 6, em lesões do pescoço e garganta (casos 28-33); 2, em lesões na clavícula (casos 34 e 35); 3, em lesões ao braço (casos 36-38); 8, em lesões ao esterno, costelas ou peito (casos 39-46); 1, em lesão as costas (caso 47) e 1, em lesão na espinha lombar (caso 48).
Somente em 13 dos 27 casos de lesão na cabeça há uma real evidência de dano cerebral, com anormalidades neurológicas e fraturas cranianas. Além disso, encontram-se no Papiro de Edwin Smith referências diretas em relação ao cérebro (que é citado sete vezes ao todo no papiro), assim como as meninges, o líquido cefalorraquidiano e uma descrição dos giros corticais como “enrugamentos formados como cobre derretido” (Finger, 2000).
Apesar de incompleto, o manuscrito é reconhecido por seu valor intrínseco ao permitir uma noção sobre como antigos egípcios já reconheciam que danos no sistema nervoso central podem ter efeitos em áreas distantes do ferimento.

Referências:
-Feldman, R. P.; Goodrich, J.T. (1999). The Edwin Smith Surgical Papyrus. Child’s Nerv Syst, 15:281-284.
-Finger (2000). Minds Behind Brain: A history of The Pioneers and Their Discoveries. Oxford University Press.

4 Comentários:

  • De acordo com o livro Tecnicas Cirurgicas e Experimental. Autor H.P Magalhaes, o pariro de Edwin Smith foi escrito ao redor de 1600 A.C e nao por volta de 1700, como relata o anexo acima.

    Por Blogger Julio Cesar, Às maio 03, 2011 2:00 PM  

  • Por que você não colocou também o dia e hora exatos? Com coisa que há muita diferença ser 1600 ou 1700 a.C. E se foi em 1650 ou 1710 ou 1599?

    Por Blogger efa1801, Às julho 28, 2011 5:23 PM  

  • Como me dirijo a voce? "Efa"? Pois bem, nao sou do tipo de pessoa que fica perdendo tempo prolongando assuntos ou debates com pessoas leigas..
    Quantos anos você tem? 14, 15, ?
    Deixa eu te explicar, a historia assim como a ciencia e os outros ramos pertinentes, estao sempre buscando objetividade e precisao, no caso da historia, principalmente nas datas e locais. Sou academico de medicina, preciso de precisoes sejam elas em qual ramo for.. Comparemos as datas com resultados de exames de pacientes.. um a mais um a menos me faria toda a diferença..
    Enfim.. evite postar esses tipos de comentarios depresiveis e inuteis, pois eles nao aumentam em nada a inteligencia de quem busca o assunto.
    Se cuida "Efa".. Abraço!

    Por Blogger Julio Cesar, Às julho 29, 2011 10:49 AM  

  • Parabéns pela divulgação, pois conhecer a História nos ajuda a compreender melhor o presente.

    Por Blogger Ere Mogetti, Às julho 22, 2014 11:27 PM  

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