Ciência é História
Desde os tempos helênicos até a Renascença, vemos a existência de uma tradição “científica” aristotélica na física e biologia; uma tradição ptolemaica na astronomia; e uma tradição galênica na medicina, que, em grande parte, se complementavam. A partir do século XVIII, por outro lado, o que vemos é uma mudança dessas tradições científicas, onde três outras tradições competiram pela supremacia nas ciências físicas: a cartesiana, a leibniziana e a newtoniana. Entretanto, a tradição newtoniana foi, de longe, a mais bem sucedida, fornecendo alguns dos pressupostos básicos para virtualmente todas as pesquisas realizadas na física até o final do século XIX.
Esta mudança de paradigma científico que ocorre neste período de tempo serve como exemplo para a importância da compreensão da história no surgimento, desenvolvimento e desaparecimento do saber científico. A ciência cresce predominantemente através da evolução de tradições de pesquisa. Como sustenta Kneller, é por este motivo que se pode considerar que a ciência é intrinsecamente histórica, no sentido de que “é uma atividade, uma instituição e um corpo de conhecimentos que mudam no tempo em função da busca de uma completa explicação da ordem da natureza”.
Kneller argumenta que a ciência também é inerentemente histórica por sua tendência a ser cumulativa. Toda investigação é uma tentativa para resolver um problema decorrente da solução de um problema anterior. Se for bem sucedida, descobre um ou mais novos problemas a serem investigados por pesquisas. O problema resolvido é um elo na cadeia de problemas e suas soluções, através dos quais a ciência avança. De um modo geral, uma nova teoria é uma fonte muito fecunda de problemas, através das predições que gera.
Por último, a ciência também é histórica na medida em que todo e qualquer enunciado ou conjunto de enunciados científicos está aberto a revisão ou substituição, diante de novas provas ou novas idéias. Como todas as conclusões cientificas são, em ultima análise, conjeturais, a ciência pode sempre se criticar e transformar-se.
Referências:
KNELLER, G. F. A ciência como atividade humana. 2 ed. Rio de Janeiro:. Zahar, 1980.
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