Ciências & Histórias

terça-feira, março 27, 2007

Ciência, História e Psicologia: Formando Relações


A curiosidade do ser humano sempre gerou indagações fundamentais sobre si mesmos e o mundo que o cerca. Desde o surgimento da filosofia na Grécia e provavelmente antes não cessaram de se indagar sobre a singularidade e a origem do pensamento humano, assim como sobre a ordem da natureza que os cercavam.

Olhando através da historia, verificamos que a natureza tem sido estudada por varias razões. Entretanto, segundo Kneller, tais investigações parecem ser inspiradas por duas emoções primordiais: o assombro e o medo. Pelo fato do homem primitivo estar à mercê da natureza, talvez o seu motivo mais forte para a investigação natural fosse atingir a paz de espírito, através de alguma explicação plausível para os desastres da natureza. Como disse Epicuro, “se não fossemos perturbados por apreensões acerca de fenômenos no céu e a respeito da morte, se nada disso nos afetasse de um modo ou de outro, e também se não fossemos perturbados por nossos fracassos em perceber os limites das dores e dos desejos, não teríamos necessidade alguma de estudar a natureza”.

Para Kneller, o medo é aliviado pelo reconhecimento de que a natureza é ordenada e inteligível. O assombro começa com esse reconhecimento e, à medida que a ciência crescia e os homens começavam a dominar o mundo, o assombro converte-se na força motriz das grandes realizações científicas.

Desta forma, a finalidade da ciência é chegar a um entendimento exato e abrangente da ordem da natureza. Mas devido a complexidade constituinte da natureza, essa busca já consume muitos séculos e consumirá muito mais. Kneller, por este motivo, considera a ciência intrinsecamente histórica. Não só o conhecimento científico em si, mas também as técnicas pelas quais ele é produzido, as tradições de pesquisa que o produzem e as instituições que as apóiam, tudo isso muda em resposta desenvolvimentos nelas e no mundo social e cultural a que pertencem.

Se quisermos entender o que a ciência realmente é, devemos considerá-la em primeiro lugar e acima de tudo como uma sucessão de movimentos dentro do movimento histórico mais amplo da própria civilização. Recorrer à história é sempre um recurso precioso para a compreensão do movimento das idéias, ou seja, o surgimento de uma determinada proposição, seu impacto tardio ou imediato, seu declínio, seu retorno em outros tempos sob novo prisma ou a rejeição definitiva por falta de evidências (Kristensen). Segundo Goethe, somente olhando para trás podemos observar os avanços de determinada disciplina ou campo de conhecimento. Alem disso, apenas através do estudo histórico podemos apreciar novas idéias, observar falhas de teorias existentes e determinar o melhor caminho a seguir para uma investigação inovadora.

Posto desta forma, compreender o desenvolvimento da Psicologia como um saber científico exige, antes de tudo, um entendimento das sucessivas mudanças do próprio pensamento científico e da forma que as questões relacionadas à natureza humana e seu comportamento. Como abordagem cientifica, a psicologia possui suas origens no século XIX. Entretanto, seus precursores são tão remotos quanto os de qualquer disciplina. Como apontam Schultz & Schultz, a distinção entre a psicologia moderna e seus antecedentes está menos nos tipos de perguntas feitas sobre a natureza humana do que nos métodos empregados na busca das respostas a essas perguntas. Dessa forma, o que distingue a antiga filosofia da psicologia moderna são a abordagem e as técnicas usadas, que apontam esta última como campo de estudo próprio e de caráter científico.

Neste ponto, algumas questões emergem: O que é ciência? Como se define este saber científico? Qual a importância da história no estudo científico? Como se faz esta história? O que foi dito e como é dito agora?

É a partir destas perguntas, e outras que eventualmente surgirão, que refletiremos aqui.

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