Ciências & Histórias

sexta-feira, agosto 24, 2007

Victor Horsley e a Trepanação


A trepanação tem sido alvo do interesse dos neurocirurgiões e antropólogos desde meados de 1870, quando se percebeu, pela primeira vez, que povos antigos abriam orifícios no crânio de pessoas ainda vivas, com diversas evidências arqueológicas na França e no Peru. O neurologista Paul Broca foi um dos primeiros a se envolver neste assunto em 1867, quando o arqueólogo americano Ephraim Squier mostrou a ele um crânio peruano trepanado. A partir disso, Broca estudou diversos crânios de 4000-5000 anos de idade encontrados em sítios arqueológicos na França, do Período Neolítico. Segundo ele, a trepanação era realizada principalmente em jovens, no tratamento de convulsões simples que estariam associados, para os antigos, com possessões demoníacas.

Um outro neurocirurgião que estudou a fundo tal assunto foi Victor Horsley (1857-1916). Para ele, os orifícios não eram feitos de forma aleatória. Horsley observou que grande parte dos orifícios se concentrava no ápice do crânio, acima do que ele chamou de área motora. Para confirmar sua proposta, Horsley chegou a desenhar em um único crânio a disposição da localização de vários orifícios trepanados, indicando uma área de preferência.

Horsley concordou com Broca ao afirmar que os pedaços de crânios que eram retirados após a morte do sujeito provavelmente eram utilizados como amuletos e eram vistos como possuidores de poderes místicos. Mas diferente de Broca, Horsley atribuía um motivo racional para a prática da trepanação nos primitivos, considerando que a trepanação era feita como tratamento de convulsões originárias de algum traumatismo e excluindo o elemento místico e sobrenatural (como apontava Broca ao falar de uma tentativa de expulsar os demônios que estariam perturbando o indivíduo).

Entretanto, Horsley nunca publicou nenhum artigo completo sobre suas idéias, apenas tendo apresentado pequenas notas sobre assunto. Sua proposta também não foi bem recebida pelo meio científico na época, pois como mesmo disse Sir Francis Galton, “implica mais inteligência aos selvagens do que eles normalmente demonstram”.

Referência:
Finger, S.; Clower, W.T. (2001). Victor Horsley on "Trephining in Pre-historic Times".
Neurosurgery. 48(4):911-918.

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