Descobrindo a Trepanação: A Contribuição de Paul Broca
A trepanação (do Grego, Trupanon, perfuração, abrir um buraco) é um procedimento cirúrgico que consiste na retirada de um pedaço do osso do crânio. Está técnica foi muito utilizada durante a Idade Antiga, Média e ainda é utilizada atualmente com fins terapêuticos de doenças intracraniais. Entretanto, crânios trepanados encontrados entre os restos de culturas pré-históricas servem como indício de que povos que viveram durante o período Neolítico (10000 a.C.) provavelmente já atribuíam alguma importância ao cérebro.
Até o século XIX, diversos crânios trepanados foram encontrados em sítios arqueológicos espalhados por toda Europa, como Alemanha, Áustria, Polônia, Portugal, Inglaterra, Itália, Dinamarca, Suécia, Rússia, Espanha e França, sendo o primeiro crânio trepanado encontrado em 1685, por Bernard de Montfauchon (1655-1741) em Cocherel, França (Finger, 1994; Clower, Finger, 2001).
Entretanto, os orifícios resultantes da trepanação, até então, eram considerados frutos da ação de armas, lesões acidentais ou alterações feitas após a morte. É a partir da década de 70 do século XIX que ocorre uma mudança na interpretação dada a estes orifícios e é o neurologista Peter Paul Broca (1824-1880) um dos principais responsáveis por chamar a atenção da comunidade científica para os crânios trepanados.
Inicialmente procurado pelo arqueólogo Ephraim George Squier (1821-1888) a respeito de um crânio que apresentava uma abertura, Broca logo se vê diante de uma serie de perguntas. Intrigado, propõe um novo olhar em relação a interpretação daqueles orifícios.
Em 1965, na cidade de Cuzco, Peru, Squier se depara com um crânio que apresentava um orifício retangular de 15 X 17 mm. Devido a suas características, Squier conclui que aquele orifício era produto de mãos humanas, possivelmente algum procedimento cirúrgico. Entretanto, resolve procurar a ajuda de algum especialista e portanto leva a amostra até a França e procura Paul Broca. Após cuidadosa análise, Broca conclui que aquele orifício no crânio representava um caso de “avançada cirurgia” oriunda do Novo Mundo antes da chegada dos colonizadores. Em sua análise, Broca concluiu que a cirurgia havia sido realizada em um indivíduo ainda vivo e que sua morte só foi ocorrer 1 ou 2 semanas depois.
A partir de suas observações, novas perguntas surgiram: por que tal operação foi realizada? Sob que condições? Houve sucesso? Para respondê-las, Broca procurou examinar outras amostras, que logo surgiram devido à sua análise. Centenas de crânios neolíticos foram encontrados em solo francês, atualmente estimados entre 4000 e 5000 anos de idade. A busca pelos motivos que justificariam a realização de trepanações pelo homem pré-histórico levou Broca a publicar diversos artigos e a apresentar diversas palestras sobre o assunto. Segundo ele, as trepanações eram realizadas mais comumente em jovens (idéia que posteriormente se percebeu errado), associadas com algum problema e tendo assim um intuito curativo; ao mesmo tempo em que estaria associado com algum contexto social ou religioso.
Referência:Clower, W.T.; Finger S. (2001). Discovering trepanation: the contribution of Paul Broca. Neurosurgery 49(6):1417-25.
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