Ciências & Histórias

terça-feira, maio 27, 2008

O Período Homérico I


Como já dito, é a partir dos textos atribuídos a Homero – A Ilíada e A Odisséia – que se conhece e estuda o chamado Período Homérico. Em seus versos, Homero trata sobre a destruição de Tróia pelos gregos (A Ilíada) e as viagens de Ulisses de volta ao seu Reino de Ítaca (A Odisséia). Ao mesmo tempo, é a partir de suas narrações que se conhece sobre a estrutura social e cultural da época. Ainda, podemos encontrar de forma indireta indícios sobre como era praticada a medicina nesta época e conseqüentemente como era vista a relação entre o corpo e a alma (ou mente) e como eram definidos conceitos de saúde e enfermidade. Por este motivo, lançaremos um breve olhar sobre como esta questões surgem inicialmente a partir deste período.

Na Ilíada, observa-se diversas alusões a inúmeros ferimentos (cerca de 141 a 147), na cabeça, no pescoço, no peito, no abdome, nos membros, ferimentos por vezes acompanhados de fraturas ou mesmo de esmagamento de ossos, causados por lanças, punhais, flechas ou pedras, desde aqueles que capazes de gerar morte instantânea (como uma flecha que penetra por trás do pescoço) até aqueles que simplesmente ocorriam devido a uma comoção cerebral (como uma pancada à altura do capacete). Obviamente, não havia uma preocupação em se fazer uma descrição detalhada de questões anatômicas e funcionais das diversas do corpo (como só acontecerá posteriormente no Período Clássico), mas já podemos observar aqui algumas associações indiretas.

É importante ressaltar que, enquanto na Ilíada, a medicina é uma arte natural, sem caráter mágico ou sacerdotal, na Odisséia, aparecem referências a remédios e práticas mágicas, provenientes do Egito, a “terra dos médicos mais sábios e dos remédios e venenos mais extraordinários e numerosos”, segundo Homero. Assim, a não ser nos casos em que a causa do mal se mostrava evidente, as doenças eram atribuídas à intervenção de seres sobrenaturais. Os meios de ação desta medicina eram senão as preces e os sacrifícios em hora de alguma divindade. Isto não causa estranheza, pois este período é bem marcado pelo pensamento de que tudo era resultado da vontade divina. Os deuses participavam da vida diária, partilhavam com os homens o amor e a luta pelo poder e estavam presentes na guerra.

A anatomia homérica era extremamente semelhante a de outras civilizações arcaicas, derivadas de observações ou da realização de sacrifícios. Embora os principais órgãos fossem conhecidos e nomeados, os primeiros gregos tinham pouco conhecimento funcional destas partes, exceto algumas mais elementares. Dessa forma, o conhecimento anatômico e fisiológico desta época era extremamente limitado. Observa-se que o guerreiro homérico sabia que partes de anatomia humana devia atacar para matar um inimigo. Ao mesmo tempo, os próprios heróis eram os responsáveis em geral pelo tratamento dado um ao outro ou a si mesmo. Podemos dizer que os heróis homéricos sabiam como tratar suas próprias feridas e as de seus companheiros e que alguns deles – destaque para os filhos de Asclépio (Machaon e Podalirio) – tinham particular habilidade nessa arte. As doenças eram mandadas pelos deuses.


Na imagem de hoje, representação do corpo de Heitor sendo levado de volta pra Tróia, em alto relevo em um sarcófago romano.

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