Ciências & Histórias

segunda-feira, setembro 22, 2008

O que sabemos e o que Não Sabemos II

É crescente a confiança no meio científico de que seja possível explicar a mente humana e a sua consciência como um fenômeno natural gerado pelo cérebro. Desta forma, compreender como a consciência surge e é processada no cérebro humano representa um dos maiores desafios, atuais. Como dito anteriormente, pode-se hoje sondar as ligações entre este cérebro e a sua mente com um conjunto de ferramentas cada vez mais potentes e eficazes. Assim, observamos claramente que a neurociência está avançando e chegando a algum lugar. Entretanto, inevitavelmente temos que nos perguntar: para onde ela está indo?

Por ser um empreendimento enorme, a neurociência abrange desde estudos das moléculas que facilitam a transmissão neural até estudos com imagens por ressonância magnética de toda a atividade cerebral. É praticamente impossível apontar uma única descoberta científica, ou mesmo um conjunto de descobertas nascidas da neurociência que sejam capazes de responder como o cérebro produz a mente humana e qual a sua verdadeira natureza. Talvez, sua característica mais marcante seja justamente o enorme número de achados que estão florescendo a cada ano, ainda desconexas entre si, e incapazes de dar conta da questão mente-cérebro. Infelizmente, não existe um modo de encaixar todo o conhecimento produzido numa estrutura coerente. Podemos afirmar, assim, que não estamos próximos de chegar a uma abordagem unificada da mente humana.

Como descreve John Horgan, talvez o progresso da neurociência se caracterize por uma espécie de antiprogresso. Segundo ele, à medida que os estudiosos aprendem mais sobre o cérebro, vai ficando mais difícil conceber como esses dados tão dissociados podem ser organizados em um todo coeso e coerente. Ou como ele mesmo diz, “como crianças precoces brincando com um rádio, os cientistas da mente são excelentes para desmontar o cérebro, mas não têm a mínima idéia de como tornar a montá-lo”.

Trata-se basicamente de um questionamento de como uma configuração determinada de neurônios no cérebro pode dar lugar às experiências conscientes, processos cognitivos superiores e tudo aquilo que diz respeito ao que chamamos de mente humana. O que é para um sistema físico como o cérebro estar num determinado estado que gera determinada experiência mental? Quais são as correlações entre as propriedades da consciência e as propriedades físicas e biológicas do organismo?

Segundo Paul Churchland, descrever em termos físicos o aspecto qualitativo intrínseco dos estados mentais conscientes é uma tarefa que se mantém, ainda hoje, como um “problema vivo” e indissolúvel. O que percebemos é que a possibilidade de uma abordagem experimental dos fenômenos mentais é amplamente discutida hoje por filósofos, psicólogos e neurocientistas. O ponto de partida para reflexão reside em duas questões: a) até que ponto os avanços alcançados pela neurociência nos ajudam a compreender os fenômenos mentais, tais como a representação e a consciência?; e principalmente, b) é possível abordar empiricamente os fenômenos mentais?

terça-feira, setembro 16, 2008

O Que Sabemos e o Que Não Sabemos


Hoje, podemos dizer que sabemos que o Sistema Nervoso Central é dividido entre a Medula Espinhal e o Encéfalo e que o Encéfalo se localiza dentro do crânio. Sabemos que o encéfalo se divide no cérebro, no cerebelo e tronco encefálico. Sabemos que o cérebro é composto por duas metades: os hemisférios direito e esquerdo, que são cobertos por uma fina pele de tecido cinzento profundamente pregueada chamada córtex cerebral. Sabemos que, apesar da vista superficial de cada cérebro ser ligeiramente diferente, existem pregas – sulcos e giros – comuns a todos e que são utilizados como pontos de referência. Sabemos que cada hemisfério cerebral é dividido em quatro lobos, divisões estas marcadas por estes sulcos e giros: o lobo occipital, lobo parietal, lobo temporal e o lobo frontal. Sabemos que estes lobos cerebrais estão associados com funções motoras e cognitivas diversas.
E se olharmos bem de perto, hoje já sabemos que o cérebro (e todo o sistema nervoso) é composto por bilhões e bilhões de células que formam uma densa rede. Sabemos que estas células se dividem entre as “células gliais” e neurônios, basicamente. Sabemos que são os neurônios os principais responsáveis pela atividade cerebral, que são extremamente extensos e que se comunicam através da condução de sinais elétricos e químicos. Sabemos que estes neurônios podem se conectar com até dez mil outros neurônios. Sabemos que, se olharmos muito próximo (mas muito mesmo) veremos que existe uma minúscula lacuna entre o axônio de um neurônio e o dendrito de outro neurônio, chamado de sinapse. Sabemos que para o sinal elétrico passar de um neurônio para outro, cada axônio libera na lacuna sináptica diversas substâncias químicas chamadas neurotransmissores. Sabemos que estes neurotransmissores fazem com que os neurônios vizinhos também disparem o sinal elétrico, provocando uma atividade simultânea e em cadeia em milhares de neurônios. Sabemos que é através destes processos que ocorrem na fenda sináptica que as informações de um neurônio são repassadas para outros neurônios, permitindo a divulgação, processamento e ação de uma sensação.
Entretanto, mesmo sabendo isso tudo, ainda não sabemos responder de forma satisfatória onde está, o que é e como surge a mente humana e qual a sua verdadeira natureza. O desenvolvimento de diversos estudos que investigam a localização das funções cerebrais no campo da neurociência tem contribuído em uma melhor compreensão dos substratos neurais do comportamento humano.
Em muitos aspectos, o debate acerca da natureza da mente humana vem tomando novos rumos graças à influência do conhecimento biológico e à crescente investigação acerca da atividade neural. Não restam muitas dúvidas, de que o cérebro é fundamental para o surgimento daquilo que chamamos de “mente”. Se você quer compreender como os humanos criam a música, escrevem peças, inventam máquinas, se apaixonam, brigam, pensam e se questionam o porquê de seu pensamento, é preciso estudar também a função cerebral. Desta forma, fica claro que a natureza da mente não é uma questão puramente filosófica, mas também uma questão profundamente científica.
No cerne de todas estas discussões, residem as questões mais óbvias, mas ao mesmo tempo, as mais intrigantes: De onde vêm as mentes? O que são elas? Qual a natureza real dos processos e estados mentais? Em que meio eles ocorrem, e como se relacionam com o mundo físico? O que podemos perceber é que os estudos das ciências contemporâneas da mente têm sido norteados principalmente por uma questão: a relação que existe entre a mente e o cérebro, ou como comumente é conhecido, o problema mente-corpo.

sexta-feira, setembro 12, 2008

Novo Projeto


O cérebro humano sempre provocou um fascínio por seus mistérios e segredos. Assim como navegadores desbravando mares desconhecidos (ou pouco conhecidos), cientistas e filósofos têm procurado desvendar as águas profundas da mente humana e sua relação (direta ou indireta) com o funcionamento cerebral. Ao longo de toda história, observamos tímidas investidas em busca de respostas que falem sobre a natureza humana. Tal busca tornou-se foco da convergência de diversas áreas de conhecimento inter-relacionadas, como a filosofia, anatomia, fisiologia, psicologia e mais recentemente a genética, inteligência artificial e até mesmo a engenharia.

Apesar de esforços contínuos em busca de uma compreensão acerca do cérebro humano, foi apenas em 1891, a partir dos trabalhos de Ramón y Cajal (1889), que tomamos conhecimento da unidade básica do cérebro: o neurônio (Rapport, 2005). Desde então, podemos observar um crescente acúmulo de conhecimento acerca da composição e funcionamento do cérebro. Graças ao surgimento de novas técnicas de investigação, capazes de observar a atividade neural de forma cada vez mais íntima, o cérebro tornou-se a fronteira final no debate acerca da natureza da mente humana.

E cerca de 100 anos após os trabalhos de Ramón y Cajal, na década de 1990, (conhecida como “a Década do Cérebro”), pudemos pela primeira vez observar, de forma não intrusiva, um cérebro humano vivo e consciente em pleno funcionamento, através de técnicas de Ressonância Magnética funcional (fMRI). Atualmente, contamos não só com a Ressonância Magnética funcional (fMRI), mas também com tomografia computadorizada por emissão de pósitrons (PET Scan) ou por fóton único (SPECT), magnetoencefalografia (MEG) e traçadores de atividade neuronal baseados em expressão gênica (c-Fos). Todas estas diversas técnicas nos permitem, hoje, ir, de forma audaciosa, aonde nenhum homem jamais esteve: dentro de um cérebro humano. Esta verdadeira viagem tem dado novos rumos ao entendimento sobre o funcionamento do cérebro humano.

Talvez não seja demais dizer que estamos agora prontos para tomar vantagem desse progresso científico para entender o que o cérebro faz. Reunidas em torno da neurociência, as diversas áreas relacionadas ao estudo do cérebro e da mente têm gerado grande expectativa em relação ao entendimento final da natureza do cérebro humano.

Será mesmo? Bem, a partir de hoje, teremos uma mudança do foco do trabalho e discutiremos um pouco sobre o papel da neurociência atual, seu desenvolvimento e o status do conhecimento por ela gerado.