Ciências & Histórias

quarta-feira, maio 28, 2008

Período Homérico II

Na Grécia, o ponto inicial de toda especulação fisiológica era a observação elementar de que a vida implica a presença de certas substancias do mundo exterior, como o ar e a comida e os líquidos do corpo humano, como o sangue. Segundo A fisiologia começa quando o homem tenta correlacionar estas substancias. Ao tempo de Homero, assumia-se a relação entre alimentação e sangue. Os deuses não tinham sangue algum em suas veias, mas um outro liquido: o “ichor”. Isso acontecia, pois seu alimento era diferente, consistindo de néctar e ambrósia e não pão e vinho, como dos mortais. A importância do ar também era reconhecida. Entendia-se a vida como uma substância semelhante ao ar, que era exalada e escapava no momento da morte. Ainda não se usava o termo “pneuma”, que irá ocupar um importante papel na fisiologia grega.



A idéia de um corpo, tal como entendemos hoje, está ausente nos poemas épicos. Na Grécia arcaica, o corpo era visto como um aglomerado de membros, representados na graça e no ritmo dos seus movimentos, bem como na exuberante força de sua musculatura. Para designar esses membros representativos do corpo, o homem homérico empregava não a palavra “soma” nas as palavras “guya”, que significa os membros do corpo em movimento, e “melea”, que designa os membros dotados de força muscular. Era também empregada a palavra “demas” para designar a estrutura, o tamanho, a semelhança.

O homem homérico, embora soubesse que tinha uma psyche, ignorava, porém, a sua natureza e sabia apenas que, no momento da morte, ela abandonava o corpo e vagava, como uma sombra inconsistente, pelas regiões sombrias do Hades. Não existe na obra homérica uma definição da psicue enquanto o homem vivo, já que só abandona o seu dono quando este morre ou perde a consciência. No momento da morte, a psiche sairia pela boca como um suspiro ou através das feridas.

Ao mesmo tempo, Homero aponta a existência de thymos, considerado como o ímpeto e o arrebatamento do coração valente, e, para o poeta épico, era um dos mais belos dons dos deuses, pois, nele se escondia o segredo dos grandes feitos e das ações gloriosas, que faziam do guerreiro mortal, um herói. Seria thymos o gerador de movimento, enquanto o noos é a causa das idéias e imagens.

Entretanto, estas entidades não são localizadas em nenhuma parte específica do corpo humano.

Até aqui, ilustramos de forma superficial, como aos poucos conceitos sobre o corpo e a mente humana se formariam na civilização grega antiga. É a partir do Período Clássico que vemos uma organização e uma preocupação maior em estabelecer melhor estes conceitos. É o que veremos a seguir.

terça-feira, maio 27, 2008

O Período Homérico I


Como já dito, é a partir dos textos atribuídos a Homero – A Ilíada e A Odisséia – que se conhece e estuda o chamado Período Homérico. Em seus versos, Homero trata sobre a destruição de Tróia pelos gregos (A Ilíada) e as viagens de Ulisses de volta ao seu Reino de Ítaca (A Odisséia). Ao mesmo tempo, é a partir de suas narrações que se conhece sobre a estrutura social e cultural da época. Ainda, podemos encontrar de forma indireta indícios sobre como era praticada a medicina nesta época e conseqüentemente como era vista a relação entre o corpo e a alma (ou mente) e como eram definidos conceitos de saúde e enfermidade. Por este motivo, lançaremos um breve olhar sobre como esta questões surgem inicialmente a partir deste período.

Na Ilíada, observa-se diversas alusões a inúmeros ferimentos (cerca de 141 a 147), na cabeça, no pescoço, no peito, no abdome, nos membros, ferimentos por vezes acompanhados de fraturas ou mesmo de esmagamento de ossos, causados por lanças, punhais, flechas ou pedras, desde aqueles que capazes de gerar morte instantânea (como uma flecha que penetra por trás do pescoço) até aqueles que simplesmente ocorriam devido a uma comoção cerebral (como uma pancada à altura do capacete). Obviamente, não havia uma preocupação em se fazer uma descrição detalhada de questões anatômicas e funcionais das diversas do corpo (como só acontecerá posteriormente no Período Clássico), mas já podemos observar aqui algumas associações indiretas.

É importante ressaltar que, enquanto na Ilíada, a medicina é uma arte natural, sem caráter mágico ou sacerdotal, na Odisséia, aparecem referências a remédios e práticas mágicas, provenientes do Egito, a “terra dos médicos mais sábios e dos remédios e venenos mais extraordinários e numerosos”, segundo Homero. Assim, a não ser nos casos em que a causa do mal se mostrava evidente, as doenças eram atribuídas à intervenção de seres sobrenaturais. Os meios de ação desta medicina eram senão as preces e os sacrifícios em hora de alguma divindade. Isto não causa estranheza, pois este período é bem marcado pelo pensamento de que tudo era resultado da vontade divina. Os deuses participavam da vida diária, partilhavam com os homens o amor e a luta pelo poder e estavam presentes na guerra.

A anatomia homérica era extremamente semelhante a de outras civilizações arcaicas, derivadas de observações ou da realização de sacrifícios. Embora os principais órgãos fossem conhecidos e nomeados, os primeiros gregos tinham pouco conhecimento funcional destas partes, exceto algumas mais elementares. Dessa forma, o conhecimento anatômico e fisiológico desta época era extremamente limitado. Observa-se que o guerreiro homérico sabia que partes de anatomia humana devia atacar para matar um inimigo. Ao mesmo tempo, os próprios heróis eram os responsáveis em geral pelo tratamento dado um ao outro ou a si mesmo. Podemos dizer que os heróis homéricos sabiam como tratar suas próprias feridas e as de seus companheiros e que alguns deles – destaque para os filhos de Asclépio (Machaon e Podalirio) – tinham particular habilidade nessa arte. As doenças eram mandadas pelos deuses.


Na imagem de hoje, representação do corpo de Heitor sendo levado de volta pra Tróia, em alto relevo em um sarcófago romano.

quarta-feira, maio 21, 2008

Grécia Antiga: Quando

Tradicionalmente, considera-se que os primeiros gregos se estabeleceram de fato na Europa por volta de 1600 a.C. A Era Micênica, referente a Grécia da Idade do Bronze, e representa o período entre os séculos XVII e XII. A cultura grega desse período durou desde a chegada dos gregos no Egeu, por volta de 1.600 a.C. até o colapso de sua civilização da Idade do Bronze por volta de 1100 a.C. O período posterior a este é marcado pelas famosas obras Ilíadas e A Odisséia, de Homero. Por este motivo, este período ficou conhecido como Era Homérica, e é através destas duas principais obras que se conhece sobre a organização social, econômica política e cultural da Grécia desta época. A partir do século VIII, ocorre uma gradativa organização das polis, da arte e da literatura grega. A partir do século VI, vemos o surgimento dos primeiros trabalhos filosóficos, marcando um novo período de produção cultural.


Segundo Finley (1998), a fase de grande criatividade, pelo menos no concerne àqueles elementos da civilização grega que constituíram a parte principal do legado, terminou na época de Alexandre. Apesar de exceções, nos quatrocentos anos que separam Homero de Aristóteles, foram produzidas quase todas as idéias-chave, os estilos literários e artísticos transmitidos às épocas e culturas posteriores. Para entendermos melhor isso, segue abaixo uma divisão dos Períodos de Tempo na Grécia:

Micênico (1600-1100 a.C) — Período antes da formação do homem grego e da chegada cretense e fenícia. Nessa época, estavam se desenvolvendo as civilizações Cretense ou Minóica (ilha de Creta) e a Micênica (continental).

Homérico (1100-700 a.C) — Período que iniciou a ruralização e comunidade gentílica (comunidade na qual um ajuda o outro na produção e colheita). Só plantavam o que iriam consumir (quando a terra não estava fértil saíam em busca de terra).

Arcaico (800-500 a.C.) — Formação da pólis; aparecimento do alfabeto fonético, d a arte e da literatura. É neste período onde os vários modelos das pólis vão se constituindo, definindo assim a estrutura interna de cada cidade-Estado.

Clássico (500-338 a.C.) — O período de esplendor da civilização grega, ainda que discutível. As duas cidades consideradas mais importantes desse período foram Esparta e Atenas.

Helenístico (338-146 a.C.) — Crise da pólis grega, invasão macedônica, expansão militar e cultural helenística, a civilização grega se espalha pelo Mediterrâneo e se funde a outras culturas.

Normalmente, ao nos referirmos a uma “Grécia Antiga”, estaremos falando dos períodos Arcaico e Clássico.

terça-feira, maio 20, 2008

A Grécia Antiga: Onde

Nenhuma outra civilização deixou marcas tão profundas nas estruturas do pensamento ocidental como a civilização antiga grega. Pode-se dizer que há um consenso geral de que a formação da cultura grega antiga marca em si o nascimento da filosofia e ciência ocidental. Assim, ao falarmos sobre a base do pensamento ocidental, somos obrigados a nos referir diretamente ao pensamento grego antigo. Entretanto, antes de falarmos sobre as idéias que constituem a cultura grega, precisamos definir quem são os formadores desta cultura. Ou em outras palavras: quem são os gregos antigos?

Ao falarmos de uma civilização grega, devemos antes de tudo ter em mente que não nos referimos apenas a uma região geográfica específica, mas a um conjunto de cidades e áreas próximas, onde seu povo possuía entre si uma identidade cultural que os unia. Definiam-se, dessa forma, por uma ancestralidade em comum, por uma língua em comum e por hábitos em comum. Ao mesmo tempo, não existe uma data fixa ou um período fixo em comum acordo que defina o inicio de uma civilização grega antiga. é a partir do final da Idade do Bronze (por volta de 1600 a 1100 a.C.) que se estabelece a base cultural que irá marcar as primeiras eras de uma civilização. Por volta do século V a.C., a civilização e cultura gregas clássicas já estavam há muito estabelecidas. Entretanto, hoje falaremos apenas de sua localização.


Geograficamente falando, a civilização grega se espalhava por toda própria península grega, assim como as ilhas nos mares em torno dela. Em seu período mais fértil culturalmente falando (por volta do século V a.C.), as comunidades gregas se espalhavam desde o Fásis, no limite leste do mar Negro, até Marselha. A costa da Ásia Menor (hoje a Turquia), a maior parte da costa da Sicília, a extremidade sul da Itália, desde Nápoles, eram intensamente gregas, embora abrigassem também numerosas populações de outras raças. Esse padrão geográfico era produto de continuas explosões de migrações, iniciadas desde o ano 1000 a.C.



Apesar de diversas cidades espalhadas em torno de todo Mediterrâneo e de certa dificuldade física de comunicação, cabe apontar que, ao falarmos sobre a formação da cultura grega, pouco ou nada influi o local ou região onde se localizavam. Assim, quando nos referirmos a uma civilização grega, estaremos falando de toda esta área ocupada por este povo, unido por sua prática cultural e não por sua identidade geográfica.