Ciências & Histórias

quarta-feira, outubro 01, 2008

A Lacuna Explicativa



Um argumento que geralmente gera a controvérsia sobre este assunto é sobre a (im)possibilidade de termos certeza de que a sensação interior à qual vinculamos a dor é qualitativamente idêntica à sensação interior que outra pessoa vincula. Talvez os estados mentais sejam radicalmente diferentes, apesar de estarem associados a um comportamento, fala, circunstâncias causais e até mesmo um aparato físico – no caso, um funcionamento fisiológico e uma determinada região do cérebro onde está dor é “representada” (Levine, 1983).
Ainda não é possível, ter qualquer idéia de como o substrato neuronal da experiência de dor pode explicar porque a minha dor é sentida de tal maneira, ao invés de uma outra ou de algum modo. Os estados mentais e suas propriedades não são as propriedades observáveis empiricamente no cérebro ou passíveis de inferência a partir de tais observações, e a introspecção não entrega o processo cerebral e suas características. De uma forma grosseira, ainda não podemos categoricamente ver um estado de consciência como um estado cerebral.
Alguns filósofos têm considerado o estudo da mente, e conseqüentemente da consciência, como um problema epistemológico, já esta se caracteriza como um evento privado em primeira pessoa em oposição ao corpo, que é marcantemente público e observável. Desta forma, há a impossibilidade de uma abordagem empírica da consciência através deste tipo de estudo. Como Levine (1983) aponta, há a incapacidade das teorias fisiológicas em explicar os fenômenos mentais. Segundo este autor, esta incapacidade caracteriza o que ele chama de “lacuna explicativa”.
A proposta de Levine sobre a lacuna explicativa consiste em afirmar que nós não podemos explicar como as propriedades da experiência consciente são realizadas no cérebro, ou como uma experiência consciente poderia surgir a partir dos processos cerebrais, recorrendo aos fatos particulares concernentes ao cérebro e as leis que nos oferecem as melhores ciências empíricas sobre tal assunto.
Desta forma, Levine dá maior foco na dificuldade de encontrar uma representação fisiológica das qualia, nossas sensações subjetivas do mundo. Entretanto, podemos estender esta idéia de “lacuna explicativa” para nos referir a funções mentais como percepção, memória, raciocínio e emoção – e ao comportamento humano. De forma semelhante, Searle acredita que a questão “como o cérebro produz consciência” ainda se constitui em um problema. De fato, Wittgenstein, em seu Investigações Filosóficas, já falava de um “fosso intransponível entre consciência e processo cerebral” (Kaufmann, 1999).

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